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Mostrando postagens de 2011

Preto e branco

Por quanto tempo somos capazes de viver no lugar comum chamado simplicidade? Por quanto tempo o "não" e o "sim", crus e diretos, podem durar? A simplicidade me agrada. O olhar preto e branco, sem nuances ou degradês; é ou não é. O problema é que agrada mas não se mantém. Precisa de pouco para "talvez", "e se", "mas", "será" e companhia retornarem ao habitual vocabulário dos monólogos mentais... Talvez (olha ele aí!) uma solução seja se esforçar: para manter a simplicidade, para abandonar os "senões". Se policiar, prestar atenção aos pensamentos, reprogramar as intenções. Se funcionar eu conto, ok?

Mentir pra mim

Um coração vazio parece bater mais, muito mais que um cheio de alguém. Bate tanto e por tão nada que chega a doer... Queria tanto enganar a mim mesma! Me apaixonar platonicamente, me iludir! Mas a consciência da realidade e dos homens é tanta que não sinto mais os efeitos do suave veneno que é o engodo.

O escorpião, o sapo e o rio

Quando minha mãe quer explicar sobre a imutabilidade de certas situações ou discutir sobre o comportamento humano, ela quase sempre conta a história do sapo e o escorpião. Havia um rio, um sapo nadando e um escorpião em uma das margens. O escorpião chama o sapo e pede "por favor, sapinho, poderia me levar à outra margem do rio?" O sapo olha desconfiado e responde "você acha que eu sou doido? Você vai me picar, meu corpo vai ficar paralizado e vou afundar!" O escorpião faz mil promessas, “se eu o picar nós dois afundaríamos, não seja tolo!”, e convence o sapo a fazer a travessia. O escorpião sobe nas costas do sapo, e eles entram no rio. No entanto, quase chegando do outro lado, o escorpião crava seu ferrão no sapo; já sob o efeito do veneno, o sapo questiona "por que você me picou? agora nós dois vamos morrer!" E o escorpião responde, antes de afundar, "me desculpe, eu sou um escorpião e essa é a minha natureza."  Eu também gosto muito de

Ponto ótimo

Quinze minutos atrás um amigo lançou uma pergunta: porque os homens se apaixonam pelo que vêem e as mulheres pelo que ouvem? Era uma pergunta retórica, um desabafo, e deveria ter se encerrado na minha resposta "não sei, nunca parei pra pensar nisso". Só que comecei a pensar. E em mais do que os porquês de nos apaixonarmos; por quê nos apaixonamos tanto? Fico extremamente tentada a usar o Mário Quintana pra (me) justificar, " no entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo: as andorinhas é que mudam ", mas tenho plena consciência de que é um engodo. Difícil enganar a si mesmo, né? Às vezes esse "hábito" de apaixonar constantemente parece uma doença crônica, da qual queremos nos livrar e conseguimos, no máximo e com muito custo, minimizar os sintomas. Não que paixão ou amor sejam aspectos negativos da vida; o problema reside no excesso. Como determinar o "ponto ótimo" de estar apaixonada? Como identificar o limite e saber se estamos ultrapassa

Aquele não

Não. Eu não posso. Taí o não mais difícil de dizer: o não que deseja ardentemente ser convertido em sim. O não que é um “eu quero, mas não devo!”. O não que nem deveria ser dito, porque pela condução natural da vida não era pra haver uma pergunta a ser respondida. Ou um convite. Dizer não a estranhos é fácil. Dizer não aos próximos às vezes é delicado, tenso, mas plenamente possível, a palavra saí da boca – com naturalidade ou sem, faz pouca diferença. Agora vai dizer não a você mesmo, vai... Dizer não às vontades malucas, às paixões que habitam secretos descaminhos do coração, vai! Sabe quando você está com a garganta inflamada, entupida de antibiótico e dá um pulinho no bar só pra dar um oi aos amigos? Quando aparece aquela santa alma pra pedir um copo, servir a cerveja e te oferecer? Você tem plena consciência de que não pode, que não vai parar no primeiro copo (que sejam só dois; dois é diferente de um, e um é diferente de nenhum), que é errado. E você bebe! Um, dois, n copos. Se r

Ainda sobre o pudor - e talvez sobre a escrita

Nua, sentada no chão com as pernas abertas, o céu escuro sobre a cabeça, uma vida inteira que não cabe nas mãos e escorre... Sem sexo, sem o peso do sexo. Nua como um anjo. Pernas contra o chão frio; o sincero contato com a dura, firme e gélida realidade do chão. Pernas em seu íntimo desejo de ser chão. Estrelas num céu de inverno, inúmeras. Luzes numa noite de inverno, inúmeras: janela. Culpa, quem precisa? Quanto mais penso, mais cresce essa massa fértil, essa semente germinante que é a vida. Não, o pudor não é necessário; todas as peças de roupa que a culpa nos faz vestir, as inúmeras máscaras, nada disso é necessário! Se tudo desejo, se tudo é desejo e vontade e ânsia e intenção...! E agora o desejo é estar nua: carne, osso, pele, pelos. Retiro peça por peça, com a calma de quem adoça os caminhos com saliva e mel. Jogo no chão frio (o mesmo chão que se confunde com as minhas já despidas pernas) as querências silenciadas, os nãos que nem cheguei a ouvir

Sobre o pudor e a escrita

Há muitos dias venho sentindo uma grande urgência em escrever, fazer reais as inúmeras imagens formadas na minha mente. Frases, parágrafos, finais... Várias histórias contadas de várias maneiras, muitas, muitas palavras caminhando de um neurônio a outro. E, no entanto, algo travou. Eu não conseguia escrever. Mais palavras, mais ideias, bum!, a luz acendeu. E qual não foi o espanto ao perceber a motivação do bloqueio... Quando escrevo não se trata apenas de exposição: é uma completa nudez. Enquanto dou forma (e palavras) às ideias, vou despindo as situações do cotidiano até restar a sensação, o sentimento. Talvez seja mais até que nudez: é como se, depois de tirar as roupas, eu me sentasse de pernas abertas. Bem abertas. Curiosamente o pudor existe justo quando estou composta; composta de fatos, realidades, nomes, endereços. Isso sim é a real exposição! E anda bem difícil me livrar dessas "assinaturas". Todos os textos pensados são como que feitos para alguém, para dizer algo

Sobre contrariar

Eu não estou sentindo frio. Não estou com saudades. O frio não faz a vontade de ganhar abraços aumentar. Ainda mais abraços de pessoas queridas. Hoje eu não vou concordar com nada que ele fale. E nem estou sendo "do contra", estou é contrariada. Distantemente contrariada.

Inocente como um pato

Era domingo e ele riu mais uma vez. "Porque você assiste esse seriado? É fútil, só fala sobre amorzinho de adolescente!". Ele estava certo e eu não tinha uma resposta. Porque eu passava horas e horas sentada em frente ao computador vivendo aquelas vidas, absorvida por uma história que já se sabia ter final feliz? Bem, a resposta veio. Através de uma noite não dormida, algumas lágrimas secas e muita conversa entre meus dois neurônios, mas veio. Eu assisto seriados de amorzinho porque eles me dão esperança. No final o mocinho sempre fica com a mocinha, e às vezes é preciso acreditar em finais felizes... Eu preciso acreditar que há um final feliz para a minha história. No frigir dos ovos tudo se resume a amar e ser amado; por seus pais, seus amigos, seu companheiro. Ser amado por um companheiro. É estúpido, romântico e ultrapassado desejar isso e me ver consumida por esse desejo, eu sei. Só que essa é a única coisa que não fui ou sou capaz de conquistar, porque não se trata de c

Sobre ir e vir

Ô coração avacalhado! Apaixona, desapaixona, apaixona de novo de novo de novo pela mesma pessoa de cinquenta mil anos atrás... Varia o sujeito mas não varia o verbo. Esperança, teimosia ou burrice?

Na porta da geladeira

Após tantas palavras desperdiçadas, concluo que necessito me calar. Acho que me perdi em meio às imagens que construí de amor e acabei sem saber de fato se era amada ou até mesmo se estava amando. Não me agrada pensar que talvez tudo isso tenha sido mais uma intenção do que uma realização, mas não posso fugir de tais divagações. Meu coração me engana, faz troça, me confunde com suas vaidades! É preciso um longo momento de silêncio e introspecção... Menos para tentar compreender o que foi ou não verdade, mais para me compreender. Para sentir mais. Sentir melhor e sentir em mim, para mim. Preciso aprender a me preservar, mãe. Ouvir e absorver esse velho conselho que escuto há tantos anos: "você precisa se cuidar, Ana. Pare de deixar que qualquer um entre na sua vida e faça estragos." *** Dessa vez não foi qualquer um, mãe. Mas os estragos estão aí para qualquer um ver.

A. A.

Ana chega em casa, larga as roupas no caminho do banheiro e entra debaixo d'água. Aquele bar fechado e tantas pessoas fumando, meu cabelo é praticamente um cinzeiro, eu estou cheirando a cinzeiro! Ela deixa a água lavar bem os cabelos, shampoo e condicionador. E o cheiro continua. Passa o sabonete uma, duas, três vezes. Esfrega a pele com força, usa a esponja vegetal, muita força. E o cheiro continua. Não é mais o cheiro do cigarro, mas algo estranho a ela, não pertecente. Ana senta debaixo do chuveiro e sente a água caindo sobre as costas, o rosto, o chão frio... É o cheiro que afasta outros homens, que a pertuba durante o sono. Ela sabe, por mais ímpeto que tivesse em não saber: é o cheiro de mulher marcada. De mulher que deseja apenas um, aquele, e que exibe todo o orgulho de sua paixão inclusive nos odores. No entanto Ana não pertence a ninguém. Não oficialmente: o status da rede social diz "solteira". E o cheiro incomoda porque expõe a flor da pele tudo aquilo que el

Fatalista

Todos os dias Ana senta em frente à estação de metrô e espera ele passar. Ah!, o acaso, a coincidência, o destino havia de juntar os dois novamente! E mal sabe Ana que agora ele não anda de metrô, ônibus ou bicicleta... No máximo pega carona na nuvem de um arcanjo qualquer.

Uma historinha antiga

Deus beijou um amigo meu. Juro! Foi bem assim na minha frente, no meio de cervejas, cigarros e conversas de botequim. Chegou Deus fazendo charme e zás!, colou a boca na boca do meu amigo. Bem, ele disse que era Deus... Ou foi eu quem afirmou? Deus usaria calças de oncinha? O fato é que aconteceu, e se não era Deus bem poderia ser; se Ele finge de mendigo para testar nossa caridade, também pode descolorir os cabelos e sair pela rua como quem se vestiu no escuro. Para testar o quê eu não sei, mas que pode, pode. Se não era Deus... Sorte a minha que o eleito foi meu amigo e não eu!

Silêncio, sal e sol

Lá fora todo esse azul, essa calma, esse barulhento clamor de dia fresco. Aqui dentro eu só desejo o deserto. Árido, quente, silenciosamente mortal. Eu quero ser o deserto. Sem paixões, sem apegos, sem receios. Só areia e sal. Ou areia e sol.

Sobre não olhar para trás

Mais uma vez somos só eu, a tela e a madrugada inteira pela frente. *** Compreendi porque é mais fácil se arrepender do que seguir em frente. O arrependimento nos prende ao passado, àquilo que não tem volta e não pode ser alterado; presos, não conseguimos - e nem precisamos - olhar para frente e caminhar, nos sujeitar a novos tropeços, sofrer novas dores, viver outras possibilidades. O arrependimento nos faz sofrer apenas uma dor, mas sempre a mesma e nunca sem. É o caminho mais fácil para quem não quer experimentar a vida, com seus ônus e bônus. Só que esse alguém não sou eu.

Estanque

Estou com medo. Neste exato instante. Medo. Do que sou e do que virei a ser. Medo de um futuro doloroso. Medo de não conseguir vencer meus fantasmas, de não conseguir domar meus demônios. Medo do caminho que escolhi trilhar. Medo de quem me tornei. Medo de olhar para trás e perceber que construí uma imagem falsa de mim mesma; falsa para mim, talvez falsa também para os outros. Tenho medo. Muito. E ele me imobiliza...

De porcelana

Ganhei uma boneca no natal passado. Porcelana finíssima, cabelos negros e vestido cor vermelho sangue. Era a mais bonita de todas as minhas bonecas e a mais frágil também; parecia que só de olhar trincava. Daquelas que a gente ganha e tranca no armário, tamanho o ciúme e o medo de perder. Eu, no entanto, muito vaidosa do presente coloquei na estante da sala. Um dia, por acaso, a filha da vizinha viu a boneca e pediu para brincar. Relutei por uns instantes, fiz cara feia, mas acabei cedendo. Ora, a menina tem oito anos, nem é tão pequena, não há de acontecer nada! Todas as tardes ela vinha com suas panelas, xícaras e chás de mentirinha; a felicidade dela era minha também - que ficava sempre perto, por precaução. Com o passar do tempo já não me preocupava com a boneca, não havia mais receio de um acidente qualquer. E, obviamente, o óbvio aconteceu: em uma terça-feira insuportavelmente quente a menina, ao voltar com a boneca para a estante, a deixou escorregar das mãos e espatifar n

Exorcisando alguns demônios

Estou a um passo da loucura -- ou talvez já completamente mergulhada nela, até o último fio de cabelo. Quatrocentos e cinquenta e duas vozes com suas quatrocentos e cinquenta e duas mensagens falam, berram ou sussurram na minha fragilizada cabecinha de vento, vento que não leva nem meio mau pensamento pra longe. Todos os opostos e contradição me escolheram como morada. Sinto ao mesmo tempo - e nada compassado - dor, raiva, medo, angústia, amor, paixão, compaixão, pena, revolta, incompreensão, pânico, alívio, cansaço, solidão, entre outros sentimentos ainda não detectados ou não nomeáveis. Não quero alimentar sentimentos negativos, mas parece que algo dentro de mim me impele a isso. Mas também não quero nutrir esperanças, por motivos mais do que óbvios. Acho que esse mafuá todo serviu para me trazer a consciência de que não basta que o indivíduo me ame: é preciso colhão pra encarar a ferinha aqui.