Pular para o conteúdo principal

O escorpião, o sapo e o rio


Quando minha mãe quer explicar sobre a imutabilidade de certas situações ou discutir sobre o comportamento humano, ela quase sempre conta a história do sapo e o escorpião. Havia um rio, um sapo nadando e um escorpião em uma das margens. O escorpião chama o sapo e pede "por favor, sapinho, poderia me levar à outra margem do rio?" O sapo olha desconfiado e responde "você acha que eu sou doido? Você vai me picar, meu corpo vai ficar paralizado e vou afundar!" O escorpião faz mil promessas, “se eu o picar nós dois afundaríamos, não seja tolo!”, e convence o sapo a fazer a travessia. O escorpião sobe nas costas do sapo, e eles entram no rio. No entanto, quase chegando do outro lado, o escorpião crava seu ferrão no sapo; já sob o efeito do veneno, o sapo questiona "por que você me picou? agora nós dois vamos morrer!" E o escorpião responde, antes de afundar, "me desculpe, eu sou um escorpião e essa é a minha natureza." 

Eu também gosto muito dessa história. E é justamente através dela que vou explicar uma coisa a você, meu querido escorpião: já percebi sua voz doce, seus carinhos inusitados, seus mimos. Essa coisa de sexo bonitinho, meio cúmplice, olhos nos olhos. Você me apresenta aos seus amigos, faz planos de casal, usa pronomes possessivos do tipo “nosso” e “minha” com mais frequência que o usual. Você está tentando me convencer a atravessar o rio. E, sinto informar, eu não serei o sapo a morrer afogado contigo! Eu conheço a sua natureza e sei o quão capaz é de me ferir. É tentador acreditar que poderia mudar caracteres intrínsecos da sua personalidade, mas eu belisco meu braço e a tentação passa. Você me tenta, o desafio me tenta, o desejo me tenta, mas eu beslico o braço e a toda as tentações passam. 

Eu não sou uma princesa, mas também não serei o sapo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

She was a taker... You need a giver.

Quando menos esperar você vai encontrar alguém que te beije sem pressa. Alguém pra compartilhar o gosto do cigarro, do café, da cerveja, do bolo de chocolate com pouco açúcar. Dia desses você vai virar a esquina e encontrar alguém com um timing perfeito - ao menos razoável. Alguém que vai enxergar que você parece uma piscina de bolinhas, mas na real é um mar calmo e profundo. Que vai pular de mãos dadas contigo nesse precipício que é o sentir, e ainda de mãos dadas encontrar o caminho de volta. Numa balada qualquer vai tocar "No Rain", você vai dançar suas dancinhas engraçadas e esse alguém vai rir, e achar fofo, e dançar contigo. E ela vai, benzadeus que vai, conversar com você só pelo olhar. Vai ouvir as palavras que você diz em silêncio, nas pausas entre uma tragada e outra. Você vai encontrar alguém que te enxergue por inteiro. Numa tarde besta você vai sair pra comprar cerveja e encontrar alguém que não minta pra si mesma. Alguém pra te fazer cafuné, bagunçar seu c

Not enough

O gosto do café continua na minha boca. Fecho os olhos e retorno ao beijo uma, duas, centenas de vezes. O furacão que passou por mim passou por você também? Eu não sei. Eu realmente não sei o que dizersentirpensar. Me perdoa. Me perdoa porque eu te quero mas não te amo. E querer não é o bastante para nós dois. https://www.evauviedo.com.br/

Sobre o pudor e a escrita

Há muitos dias venho sentindo uma grande urgência em escrever, fazer reais as inúmeras imagens formadas na minha mente. Frases, parágrafos, finais... Várias histórias contadas de várias maneiras, muitas, muitas palavras caminhando de um neurônio a outro. E, no entanto, algo travou. Eu não conseguia escrever. Mais palavras, mais ideias, bum!, a luz acendeu. E qual não foi o espanto ao perceber a motivação do bloqueio... Quando escrevo não se trata apenas de exposição: é uma completa nudez. Enquanto dou forma (e palavras) às ideias, vou despindo as situações do cotidiano até restar a sensação, o sentimento. Talvez seja mais até que nudez: é como se, depois de tirar as roupas, eu me sentasse de pernas abertas. Bem abertas. Curiosamente o pudor existe justo quando estou composta; composta de fatos, realidades, nomes, endereços. Isso sim é a real exposição! E anda bem difícil me livrar dessas "assinaturas". Todos os textos pensados são como que feitos para alguém, para dizer algo