Quando minha mãe quer explicar
sobre a imutabilidade de certas situações ou discutir sobre o comportamento humano,
ela quase sempre conta a história do sapo e o escorpião. Havia um rio,
um sapo nadando e um escorpião em uma das margens. O escorpião chama o sapo e
pede "por favor, sapinho, poderia me levar à outra margem do rio?" O
sapo olha desconfiado e responde "você acha que eu sou doido? Você vai me
picar, meu corpo vai ficar paralizado e vou afundar!" O escorpião faz mil
promessas, “se eu o picar nós dois afundaríamos, não seja tolo!”, e convence o sapo a fazer a travessia. O escorpião sobe nas costas do sapo, e eles entram no rio. No entanto, quase chegando do outro lado, o escorpião crava seu ferrão no sapo; já sob o efeito do veneno, o sapo questiona "por que
você me picou? agora nós dois vamos morrer!" E o escorpião responde, antes
de afundar, "me desculpe, eu sou um escorpião e essa é a minha
natureza."
Eu também gosto muito
dessa história. E é justamente através dela que vou explicar uma coisa a você, meu querido escorpião: já
percebi sua voz doce, seus carinhos inusitados, seus mimos. Essa coisa de sexo
bonitinho, meio cúmplice, olhos nos olhos. Você me apresenta aos seus amigos,
faz planos de casal, usa pronomes possessivos do tipo “nosso” e “minha” com
mais frequência que o usual. Você está tentando me convencer a atravessar o rio.
E, sinto informar, eu não serei o sapo a morrer afogado contigo! Eu conheço a
sua natureza e sei o quão capaz é de me ferir. É tentador acreditar que poderia
mudar caracteres intrínsecos da sua personalidade, mas eu belisco meu braço e a
tentação passa. Você me tenta, o desafio me tenta, o desejo me tenta, mas eu
beslico o braço e a toda as tentações passam.
Eu não sou uma princesa, mas também não serei o sapo.
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