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Mostrando postagens de março, 2011

Fatalista

Todos os dias Ana senta em frente à estação de metrô e espera ele passar. Ah!, o acaso, a coincidência, o destino havia de juntar os dois novamente! E mal sabe Ana que agora ele não anda de metrô, ônibus ou bicicleta... No máximo pega carona na nuvem de um arcanjo qualquer.

Uma historinha antiga

Deus beijou um amigo meu. Juro! Foi bem assim na minha frente, no meio de cervejas, cigarros e conversas de botequim. Chegou Deus fazendo charme e zás!, colou a boca na boca do meu amigo. Bem, ele disse que era Deus... Ou foi eu quem afirmou? Deus usaria calças de oncinha? O fato é que aconteceu, e se não era Deus bem poderia ser; se Ele finge de mendigo para testar nossa caridade, também pode descolorir os cabelos e sair pela rua como quem se vestiu no escuro. Para testar o quê eu não sei, mas que pode, pode. Se não era Deus... Sorte a minha que o eleito foi meu amigo e não eu!

Silêncio, sal e sol

Lá fora todo esse azul, essa calma, esse barulhento clamor de dia fresco. Aqui dentro eu só desejo o deserto. Árido, quente, silenciosamente mortal. Eu quero ser o deserto. Sem paixões, sem apegos, sem receios. Só areia e sal. Ou areia e sol.

Sobre não olhar para trás

Mais uma vez somos só eu, a tela e a madrugada inteira pela frente. *** Compreendi porque é mais fácil se arrepender do que seguir em frente. O arrependimento nos prende ao passado, àquilo que não tem volta e não pode ser alterado; presos, não conseguimos - e nem precisamos - olhar para frente e caminhar, nos sujeitar a novos tropeços, sofrer novas dores, viver outras possibilidades. O arrependimento nos faz sofrer apenas uma dor, mas sempre a mesma e nunca sem. É o caminho mais fácil para quem não quer experimentar a vida, com seus ônus e bônus. Só que esse alguém não sou eu.

Estanque

Estou com medo. Neste exato instante. Medo. Do que sou e do que virei a ser. Medo de um futuro doloroso. Medo de não conseguir vencer meus fantasmas, de não conseguir domar meus demônios. Medo do caminho que escolhi trilhar. Medo de quem me tornei. Medo de olhar para trás e perceber que construí uma imagem falsa de mim mesma; falsa para mim, talvez falsa também para os outros. Tenho medo. Muito. E ele me imobiliza...

De porcelana

Ganhei uma boneca no natal passado. Porcelana finíssima, cabelos negros e vestido cor vermelho sangue. Era a mais bonita de todas as minhas bonecas e a mais frágil também; parecia que só de olhar trincava. Daquelas que a gente ganha e tranca no armário, tamanho o ciúme e o medo de perder. Eu, no entanto, muito vaidosa do presente coloquei na estante da sala. Um dia, por acaso, a filha da vizinha viu a boneca e pediu para brincar. Relutei por uns instantes, fiz cara feia, mas acabei cedendo. Ora, a menina tem oito anos, nem é tão pequena, não há de acontecer nada! Todas as tardes ela vinha com suas panelas, xícaras e chás de mentirinha; a felicidade dela era minha também - que ficava sempre perto, por precaução. Com o passar do tempo já não me preocupava com a boneca, não havia mais receio de um acidente qualquer. E, obviamente, o óbvio aconteceu: em uma terça-feira insuportavelmente quente a menina, ao voltar com a boneca para a estante, a deixou escorregar das mãos e espatifar n