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Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração...

Mamãe mandou: "goste mais de você, menina."

Ela disse isso há quatro horas atrás, e "isso" simplesmente não saiu da minha cabeça até agora. Não foi um "lave atrás da orelha", "vai arrumar a cama", ou "vai sair de novo?". Não foi conselho de mãe; foi conselho de pessoa vivida.

Como doeu escutar aquilo! Não que eu tenha considerado ofensivo, não é isso. A questão é que bateu fundo, me fez olhar no espelho e constatar que eu tenho cuidado muito pouco de mim.

Pela primeira vez eu percebi que minha alma está, assim como o meu corpo, repleta de cicatrizes. E pelo mesmo motivo: falta de atenção. Cicatrizes não são um sinal de vivência; são marcas de uma vida tocada com desleixo.

Talvez a motivação da minha mãe tenha origens mais puritanas do que posso absorver mas, ainda assim, são válidas. Se entregar não é dar ao outro as rédeas dos seus sentimentos.

Comentários

  1. Não tinha pensado as coisas nessa ótica. Legal!

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  2. "[...]falta de atenção. Cicatrizes não são um sinal de vivência; são marcas de uma vida tocada com desleixo."
    se a premissa for verdade, a pergunta crucial é: tocada por desleixo, mas por quem? ou em outras palavras, "está tudo sobre controle", mas de quem eu não sei, mas está.
    é quase como acreditar um pouco na Fortuna, mas em qual delas? A roda da fortuna, medieval e antiga, indefectível; ou a renascentista, como um barco de vela, com alguêm podendo dirigir-se a algum lugar, até um certo ponto...?

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  3. Quem toca a vida com desleixo? Eu.

    Andei confundindo alho com bugalho. Queria alguém pra cuidar de mim, achei que isso me faria bem, e acabei esquecendo os limites da minha dor...

    Mas deixa passar... Como me disseram ontem à noite, "esquece e vai sorrir"...

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  4. Não que o desleixo seja exclusivo das terceiras pessoas. Não, as "primeiras" são muitas vezes depressivas, auto-destrutivas.
    Mas Acredito que muito dos desleixos são causados por cegueira, dos outros, para conosco.
    o necessário é olhar aos outros, sem perder de vista nós mesmos. Se ocorre de confundir berimbau com gaita, será que não faltou uma explicação do tipo: "berimbau tem cordas, garota!?".
    acho que sim. Deve-se explicar a diferença de berimbau e gaita, alhos com bugalhos, relacionamentos com relacionamentos.

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  5. Talvez você tenha razão, meu amigo...

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