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Tricô na cadeira

Ele não vem para te ver, Ana, vem resolver alguns problemas e só. Esqueça; mesmo que vocês se encontrem, este não é o objetivo da vinda dele a Ouro Preto. Houveram tantas outras oportunidades para te fazer uma visita... Há quantos anos você está nesta cadeira de rodas? Três, quatro anos? E quantas foram as vezes que ele veio aqui? Nenhuma, minha querida, nenhuma. Por Deus, não chore! Não agora, não por ele. Tome este lenço, ou vai querer que ele te veja com o rosto manchado de lágrimas? Agora está melhor. Sei que falando assim eu te machuco, mas minhas palavras ferem unicamente por serem verdade. Quer um copo d'água? Não precisa ir à cozinha, eu busco.

O que ele disse no telefonema? Só avisou que chegaria em Ouro Preto hoje à noite? E prometeu que viria amanhã cedo? Ana, Ana... Você bem sabe que mesmo após tantas juras e promessas ele pode não vir! Não será a primeira nem a última vez. De repente surge um negócio importantíssimo para fechar, uma doença na família, um gato preso na árvore do vizinho... É uma questão de natureza; homem foi feito para ser amado, inventar desculpas e esquecer. A mulher? Para esperar, sofrer e perdoar. E não me venha dizer que com você é diferente, pois não é. Há anos esperando por um homem que não vem, há anos perdoando suas faltas. Não, não estou te criticando...! Sou tão mulher quanto você, conheço as agulhas e fios que tecem a sua dor, a erva daninha te consome por dentro. Você sabe que não é a cadeira de rodas que o mantém tão distante, e sim o medo de te amar. Ele não nasceu para amar, e, mesmo assim, você insiste. É na dor que você se faz feliz, não é? É a constante e eterna espera que te enche de esperança, te faz acordar, viver e dormir.

Amor é cavalinho de circo, Ana; roda, roda, roda e não sai do lugar. A saudade nos faz correr mais rápido, mas sempre em torno do mesmo pilar...

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