Pular para o conteúdo principal

Leve, bem de leve

Amanhã comprarei um pacote de balas de gelatina, uma garrafa de guaraná, três pacotes de biscoito recheado e uma caixa de bombons. Colocarei tudo dentro da mochila de ursinho, junto dos guardanapos xadrez, do prato de menininha e da caneca de leão. Armada até os dentes de bobagem vou invadir o jardim, abrir uma toalha branca no chão e montar acampamento. O sol não queimará meu rosto, e nem as formigas tentarão me atacar. Vou comer, comer, e quando me fartar de tanto doce deitarei sobre a toalha - meu pé estará limpinho, mamãe não terá motivos para xingar. Será o início da grande batalha.

Apoiando a simpática edição de "Contos de Grimm" nos joelhos, explorarei todas as fronteiras da minha imaginação. Um silêncio quase virginal me protegerá dos ataques externos. A campanha será árdua, posto que para recriar um universo perdido na memória será necessário buscar em remotas lembranças as mais sutis cores da infância.

A luta terminará tão somente quando ouvir alguém chamar: "A lasanha está pronta, vem almoçar!" Jogarei, então, plásticos e papéis no lixo, guardarei a mochila no armário e o livro na estante. Mais tarde tomarei um café, acenderei um cigarro. E, sentindo bem de leve a pressão da realidade sobre as costas, sentirei saudade das balas e das formigas... Fulgáz instante de inocência.

Comentários

  1. O cigarro no final foi o grande achado!!!!!!!!

    ResponderExcluir
  2. É bom quando não machuca. É lembrança de trilhas passadas, que embeleza os caminhos de agora... Sei como é.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

She was a taker... You need a giver.

Quando menos esperar você vai encontrar alguém que te beije sem pressa. Alguém pra compartilhar o gosto do cigarro, do café, da cerveja, do bolo de chocolate com pouco açúcar. Dia desses você vai virar a esquina e encontrar alguém com um timing perfeito - ao menos razoável. Alguém que vai enxergar que você parece uma piscina de bolinhas, mas na real é um mar calmo e profundo. Que vai pular de mãos dadas contigo nesse precipício que é o sentir, e ainda de mãos dadas encontrar o caminho de volta. Numa balada qualquer vai tocar "No Rain", você vai dançar suas dancinhas engraçadas e esse alguém vai rir, e achar fofo, e dançar contigo. E ela vai, benzadeus que vai, conversar com você só pelo olhar. Vai ouvir as palavras que você diz em silêncio, nas pausas entre uma tragada e outra. Você vai encontrar alguém que te enxergue por inteiro. Numa tarde besta você vai sair pra comprar cerveja e encontrar alguém que não minta pra si mesma. Alguém pra te fazer cafuné, bagunçar seu c

Not enough

O gosto do café continua na minha boca. Fecho os olhos e retorno ao beijo uma, duas, centenas de vezes. O furacão que passou por mim passou por você também? Eu não sei. Eu realmente não sei o que dizersentirpensar. Me perdoa. Me perdoa porque eu te quero mas não te amo. E querer não é o bastante para nós dois. https://www.evauviedo.com.br/

Sobre o pudor e a escrita

Há muitos dias venho sentindo uma grande urgência em escrever, fazer reais as inúmeras imagens formadas na minha mente. Frases, parágrafos, finais... Várias histórias contadas de várias maneiras, muitas, muitas palavras caminhando de um neurônio a outro. E, no entanto, algo travou. Eu não conseguia escrever. Mais palavras, mais ideias, bum!, a luz acendeu. E qual não foi o espanto ao perceber a motivação do bloqueio... Quando escrevo não se trata apenas de exposição: é uma completa nudez. Enquanto dou forma (e palavras) às ideias, vou despindo as situações do cotidiano até restar a sensação, o sentimento. Talvez seja mais até que nudez: é como se, depois de tirar as roupas, eu me sentasse de pernas abertas. Bem abertas. Curiosamente o pudor existe justo quando estou composta; composta de fatos, realidades, nomes, endereços. Isso sim é a real exposição! E anda bem difícil me livrar dessas "assinaturas". Todos os textos pensados são como que feitos para alguém, para dizer algo