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Do que pode vir a ser.

A lua não brilhava no céu daquela quinta-feira. Noite amena; nada de nuvens, nada de estrelas, brisa leve espalhando algumas folhas secas no jardim. Ando de um lado para o outro, do quarto pro banheiro, do banheiro pro quarto. Estou vinte minutos atrasada. Ele vai passar para me pegar daqui a pouco e ainda estou enrolada na toalha, droga!, onde eu guardei minha calcinha preta?

Mãe, onde está o estojo da maquiagem? Esquece, já achei. Minha mão está lambuzada de hidratante, o estojo está escorregando, mãe segura o estojo, mãe, mãe!

O espelho quebrou. Tudo o que eu não precisava. O ano prestes a terminar, e quebro um espelho. Mais sete anos de azar? Tudo o que eu não precisava.

Olho para os cacos de espelhos no chão, me lembro de Quintana: "Os espelhos quebrados tem mais luas." Não há lua no céu, mas há vários "eus" nos espelhos. Imagens reais, vituais, reflexos. Imagens.

Quem sou eu? E se colar os pedaços? Viro um mosaico?

A buzina toca lá fora, mãe pede pra ele esperar um pouquinho que já estou saindo, acabo de me arrumar, bebo um copo d'água, respiro fundo. É preciso um pouco mais de coragem pra ser a mesma, depois de ter me descoberto em tantas.

Comentários

  1. Oie,
    Tenho um "testimonial" pra você que, coincidentemente, trata sobre isto.
    Transmimento de pensação?
    Tele(m)patia?
    Sincronia de alma?
    Não sei.
    Só sei que foi assim.
    Hoje de tarde te passo o poema..ops... o testimonial e depois você me diz se gostou ou não.
    Qualquer reclamação, fale com Fernando Pessoa.

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