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Mostrando postagens de dezembro, 2005

Do que pode vir a ser.

A lua não brilhava no céu daquela quinta-feira. Noite amena; nada de nuvens, nada de estrelas, brisa leve espalhando algumas folhas secas no jardim. Ando de um lado para o outro, do quarto pro banheiro, do banheiro pro quarto. Estou vinte minutos atrasada. Ele vai passar para me pegar daqui a pouco e ainda estou enrolada na toalha, droga!, onde eu guardei minha calcinha preta? Mãe, onde está o estojo da maquiagem? Esquece, já achei. Minha mão está lambuzada de hidratante, o estojo está escorregando, mãe segura o estojo, mãe, mãe! O espelho quebrou. Tudo o que eu não precisava. O ano prestes a terminar, e quebro um espelho. Mais sete anos de azar? Tudo o que eu não precisava. Olho para os cacos de espelhos no chão, me lembro de Quintana: "Os espelhos quebrados tem mais luas." Não há lua no céu, mas há vários "eus" nos espelhos. Imagens reais, vituais, reflexos. Imagens. Quem sou eu? E se colar os pedaços? Viro um mosaico? A buzina toca lá fora, mãe pede pra ele esper

Conversas, ausências e distância.

Jeans black da Levi´s, sandália da Melissa, bata branca da Hering -- não, não estou recebendo pela propaganda. Cabelos penteados, com cachos nas pontas, curtos. Unhas pintadas, blush, pancake, sombra, batom. Perfume. Perfeita. No fundinho do meu coração mora uma saudade imensa, que não mata nem fere. Se queria que ele estivesse aqui para me ver tão bonita? Sim, queria. Mas não choro mais, "só levo a saudade"... Não acredito em coisas perfeitas, e meu natal não seria perfeito se ele estivesse aqui, assim como não será com ele distante. Mas a saudade, meu caro, é um fato. Sinto sua falta, quer acredite, quer não. Hum... Um beijo. Do tamanho do meu carinho. Pra você mesmo, Sr. Boi Bobo.

Hã... Feliz Natal?

Eba! Peru! Frutinhas! Primos amados em BH! Nozes! Hum... Nozes! Eu não detesto natal. Não gosto de musiquinhas de natal, nem rezo na hora da ceia, mas não detesto natal. Eu como nozes no natal. É quase possível amá-lo, só por causa das nozes.

Pavio curto por um triz

Poucas coisas podem ser piores que comprar presente pra mãe. Você convive com a pessoa desde antes de nascer, e vacila na hora de escolher uma mera lembrancinha! Não pode dar algo caro, mas não quer artefato vagabundo. Se opta por uma roupa, acaba confundindo -- quase que sem querer -- o que você sabe sobre os gostos dela com o que você acha que ela gosta. É uma merda. Ela bem tenta fingir, diz que amou o presente, dá aquele sorriso amarelado -- por culpa do café e do cigarro, ele realmente é amarelo --, diz que não poderia ter ganhado presente melhor. E você sabe, com total e absoluta certeza, que ela não gostou. Bate, então, aquela sensação de 'deveria ter procurado melhor', ou 'fui caprichar e me estrepei'. Era bem mais fácil quando meu pai comprava os presentes, e eu só entregava. Ela sabia qua não fora eu quem escolhera, daí o sorriso vinha não pelo presente, mas pela atitude. Ontem, devido a uma relação já muito desgastada pelo excesso de contato, ela não se senti

Bobaginha...

Última postagem: 7 de dezembro. Quase uma semana sem escrever. Até eu estou estranhando tanto silêncio. Idéias múltiplas e variadas pulularam na minha cabeça durante esta "uma semana" de ausência, mas nada parecia plausível para ser tema de texto; tudo parecia pessoal demais, íntimo demais. Ando um pouco "à flor da pele", e é delicado escrever quando se está assim. Mas, para hoje, nada de explosões ou sentimentos incontíveis. Este texto é só uma justificativa para o meu silenciar. Uma justificativa pra mim? Ou para os outros? Eu escrevo pra quem? Passei a semana inteira me perguntando isso. Uma hora a resposta chega via correios...

Sobre-pernas.

Beleza é fundamental, eu sei. Mas e caráter? Se posso comprar peitos, bundas, cabelos, narizes, bocas, anti-rugas. Se posso, ao mudar o corte cabelo, adquirir outra personalidade, outros gostos, outras vontades. Se posso decorar duas ou três letras de música e convencer qualquer homem que o amo. Se posso dizer 'eu te amo' sem efetivamente amar. Se posso pingar colírio nos olhos e me debulhar em lágrimas. Se posso usar uma pasta dental branqueadora e nunca mais sorrir amarelo. Se posso vestir um sutiã com enchimento e ficar 'gostosa'. Se posso vestir uma roupa de marca e me tornar refinada. Se posso comprar um corretivo facial e esconder as manchas. Se posso decorar passagens clássicas de livros clássicos de autores clássicos, e posar de culta. Se posso comprar um par de óculos e posar de culta. Se posso me calar durante as conversar e posar de culta -- melhor, observadora. Não preciso de caráter. Posso ser o que quiser, na hora que quiser, do jeito que quiser. Não preci

Um sentido.

Meu amor tem cheiro de chicletes. Chicletes sabor tutti-fruti. Não é o cheiro que mais gosto, mas é o cheiro dele. Tem cheiro de fralda nova, também. E de talco, pomada para assadura. Cheiro de amor infantil. Bebê mesmo. Tem cheiro que eu gosto muito mais. Cheiro da comida da minha mãe, cheiro da roupa de minha mãe, cheiro do colo da minha mãe. Mãe sempre tem cheiro bom. Quer cheiro mais perfeitoso que o de mato molhado, assim depois dessas chuvas de verão? Tem cheiro que não é bom de jeito nenhum, mas que eu não largo. O cheiro de cigarro de uns amigos, o cheiro de cachaça de uns amigos, o cheiro de preguiça de uns amigos - preguiça tem cheiro. O meu cabelo tem cheiro bom. Meu perfume também. Mas não fico me cheirando o dia inteirinho; só de vez em quando. Conheço um monte de cheiros, sim senhor. De café novo, de frango assado, de batata frita. Mas hoje só senti cheiro de chicletes. Será que saudade tem cheiro de tutti-fruti?

in.devido

Sentir e ressentir a mão que silencia o beijo. Qual o desejo, sentir ou não sentir? Do impedimento que me faz querer mais, do não devir que me faz querer mais, dizer ou maldizer? A cada toque ausente aumenta o desejo da minha boca calar seus dedos. Delírio imaginar flores no impossível... Mais, mais e mais.

(Esqueci de pensar em um título)

Tomei uma grande decisão na minha vida: vou procurar um analista. Vou gastar meu dinheiro batendo papo durante horas e horas com alguém que, pelo menos em teoria, vai tirar da cartola a solução para meus problemas. Serei importante! Terei assunto para as conversas sociais! Como diria um carioca amigo meu : "Caraaaaaaaaaaaaca!" Deste jeitinho assim. Que sensação reconfortante me traz a banalidade. Afh. Onde é que está Macunaíma pra dizer "Ai! que preguiça..."? Uma hora por semana separada exclusivamente para falar sobre mim. Meu analista - possivelmente um machistinha enrustido - vai simular interesse a respeito de minha vida pequena, e eu vou falar, falar e falar, como se minha vida fosse algo grandioso. Não, o problema não é superficialidade das relações humanas. Vou procurar um analista por outro motivo. Cansei de conversar com o espelho, quero ouvir um "ah hã" entre uma frase e outra que eu disser. "Ai! que preguiça..." Se Macunaíma não diz, e