A lua não brilhava no céu daquela quinta-feira. Noite amena; nada de nuvens, nada de estrelas, brisa leve espalhando algumas folhas secas no jardim. Ando de um lado para o outro, do quarto pro banheiro, do banheiro pro quarto. Estou vinte minutos atrasada. Ele vai passar para me pegar daqui a pouco e ainda estou enrolada na toalha, droga!, onde eu guardei minha calcinha preta? Mãe, onde está o estojo da maquiagem? Esquece, já achei. Minha mão está lambuzada de hidratante, o estojo está escorregando, mãe segura o estojo, mãe, mãe! O espelho quebrou. Tudo o que eu não precisava. O ano prestes a terminar, e quebro um espelho. Mais sete anos de azar? Tudo o que eu não precisava. Olho para os cacos de espelhos no chão, me lembro de Quintana: "Os espelhos quebrados tem mais luas." Não há lua no céu, mas há vários "eus" nos espelhos. Imagens reais, vituais, reflexos. Imagens. Quem sou eu? E se colar os pedaços? Viro um mosaico? A buzina toca lá fora, mãe pede pra ele esper