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Diálogo a sós II

Estou me sentindo tão leve...! É quase possível voar. Desatei as amarras que prendiam meus pés ao leito do meu rio de águas passadas... Algo se esvai pelos dedos de minha mão, pelos poros da pele; perfume que, aos poucos, se despreende e dissolve no ar. Lentamente o passado volta a figurar como lembrança, momento já findo; não faz mais sentido evocá-lo em pequenos fragmentos de realidade.

Não sofro mais a dor da perda. Talvez ainda exista uma sombra, mas não a dor em si. Pouco a pouco vou enterrando meus fantasmas, deixando-os ao encargos da memória e de seus demônios pessoais. Nenhuma lágrima e nenhuma palavra pode trazer de volta o que já não existe mais. Aos poucos eles se tornam, cada vez mais, apenas lembrança, partes do passado - finito, encerrado em si. De nada adianta ressucitar mortos; eles não retornam a viver, muito menos deixam de estar mortos. E, no entanto, eu estou viva. Viva...


(Por quê o espelho sabe tão mais coisas que eu?)

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