- Eu amo você.
- Hã?
- É. É isso.
- Isso o quê?
- Eu. Eu amo você.
- Do quê é que você está falando?
- De amor, oras!
- Tem certeza?
- Qual a dúvida? Está mais do que óbvio, estou falando de amor! Amor, sabe? Aquela coisa de ansiedade, coração acelerado, do rubor que acomete a face...
- Você está ansioso?
- Não.
- Seu coração está acelerado?
- Acho que agora não...
- E seu rosto não está vermelho. Não, você não está falando de amor!
- Como não?
- Está falando de você. De um sentimento que você quer fazer existir. Mas não de amor.
- Não! Não é isso... Você não compreende...!
- Realmente, eu não compreendo. Tanto quanto você! Olhe para si; carne ou desejo, pele ou sonho, sangue ou sentimento? Onde termina o concreto e começa o abstrato dentro do seu "eu"?
- Não sei, não sei! Mas para que tanta confusão? Se falo sobre amor, falo sobre mim. Mas não deixo de falar de amor. Uma coisa não anula a outra, oras!
- Escute... Você fala do amor que sente, ou da idéia de amor que desejaria sentir?
- ...
As conversas com o espelho sempre terminam em reticências.
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