Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de junho, 2011

Ainda sobre o pudor - e talvez sobre a escrita

Nua, sentada no chão com as pernas abertas, o céu escuro sobre a cabeça, uma vida inteira que não cabe nas mãos e escorre... Sem sexo, sem o peso do sexo. Nua como um anjo. Pernas contra o chão frio; o sincero contato com a dura, firme e gélida realidade do chão. Pernas em seu íntimo desejo de ser chão. Estrelas num céu de inverno, inúmeras. Luzes numa noite de inverno, inúmeras: janela. Culpa, quem precisa? Quanto mais penso, mais cresce essa massa fértil, essa semente germinante que é a vida. Não, o pudor não é necessário; todas as peças de roupa que a culpa nos faz vestir, as inúmeras máscaras, nada disso é necessário! Se tudo desejo, se tudo é desejo e vontade e ânsia e intenção...! E agora o desejo é estar nua: carne, osso, pele, pelos. Retiro peça por peça, com a calma de quem adoça os caminhos com saliva e mel. Jogo no chão frio (o mesmo chão que se confunde com as minhas já despidas pernas) as querências silenciadas, os nãos que nem cheguei a ouvir

Sobre o pudor e a escrita

Há muitos dias venho sentindo uma grande urgência em escrever, fazer reais as inúmeras imagens formadas na minha mente. Frases, parágrafos, finais... Várias histórias contadas de várias maneiras, muitas, muitas palavras caminhando de um neurônio a outro. E, no entanto, algo travou. Eu não conseguia escrever. Mais palavras, mais ideias, bum!, a luz acendeu. E qual não foi o espanto ao perceber a motivação do bloqueio... Quando escrevo não se trata apenas de exposição: é uma completa nudez. Enquanto dou forma (e palavras) às ideias, vou despindo as situações do cotidiano até restar a sensação, o sentimento. Talvez seja mais até que nudez: é como se, depois de tirar as roupas, eu me sentasse de pernas abertas. Bem abertas. Curiosamente o pudor existe justo quando estou composta; composta de fatos, realidades, nomes, endereços. Isso sim é a real exposição! E anda bem difícil me livrar dessas "assinaturas". Todos os textos pensados são como que feitos para alguém, para dizer algo

Sobre contrariar

Eu não estou sentindo frio. Não estou com saudades. O frio não faz a vontade de ganhar abraços aumentar. Ainda mais abraços de pessoas queridas. Hoje eu não vou concordar com nada que ele fale. E nem estou sendo "do contra", estou é contrariada. Distantemente contrariada.