Pular para o conteúdo principal

Para um menino com uma flor

Porque você é um menino com uma flor e estou descaradamente copiando a ideia do Vinicuis de Morais, escrevo um texto que talvez você nunca leia. Ou talvez por ser um menino com uma flor você leia, ainda não sei ao certo porque ou a quem escrevo, se é para você, para mim ou para o mundo.

E porque você é um menino com uma flor e pela primeira vez em anos eu não consegui entender a cabeça de um homem, as palavras vêm como uma maneira de tentar te fazer mais claro para mim. Porque eu sou uma menina com uma flor, incompreensível por definição, e você não deveria ser mas é. Porque você se aproxima e se afasta de todo o meu repertório de possibilidades, seus sinais não são lineares e eu não consigo imaginar o que se passa na sua cabecinha, a única certeza que tenho é que você é um menino com uma flor e que não te entendo, nem um pouquinho.

E porque você é um menino com uma flor e um mistério eu não estou apaixonada, mas completamente absorvida pelo desejo de compreender essa vida que me intriga como a caixa à Pandora. Das perspectivas futuras eu não sei, mas por hoje posso dizer que o sentimento é outro, e desejo que permaneça assim.

E sendo você um menino com uma flor eu não deveria esperar que você me pedisse para ficar, mas você pede e eu fico. Como pétala na água, deixo o rio me levar sem prestar atenção nos caminhos. E não espero mais me esborrachar nas pedras; não acredito que isso vá acontecer porque você é um menino com uma flor e é bom, e eu não sou mais tão menina assim.

E já que você é um menino com uma flor e esse mistério gigante, espero que você me peça para ficar outras vezes, e mesmo que não seja para dormir ao meu lado e acordar mal humorado e com cheiro de cigarro, ao menos para fazer suas mil e uma caretas, falar de fotografia e outras coisas que eu não entendo, dar chiliques de mentirinha ou me chamar de tiete. Mesmo que seja só para estar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eficiente e rosada

Ah, claro, é porque eu tenho buceta. Desse jeito assim, b.u.c.e.t.a. Comprada em suaves prestações, tecnologia de ponta. Não fede, não sangra, não adoece, não cansa, não estressa. Apenas uma eficiente e rosada buceta. É a tal da buceta quem me dá tudo: dinheiro, amor, comida, prazer, joias, cortesia na balada. E é a mesma buceta quem me chama de vadia, galinha, vagabunda, puta. Buceta não tem nome. Pênis tem; João, Diego, Rodrigo, Mateus. Buceta nunca, é só buceta. Sirlanney (http://sirlanney.tumblr.com/)

Poça d'água

E como não tinha solução, solucionado estava. Caminhando de volta pra casa, Ana observa o entardecer. Os últimos feixes de luz antes da noite cair, a morna melancolia se espalhando pelo ar depois de uma breve chuva de verão. Ela pisa nas poças de água como se espalhasse pelo chão sua própria angústia; o coração, nó cego, parece inchar dentro do peito e comprime, machuca. Os pés batem confusos no cimento. Ana quer correr, gritar, rir alto, contar ao mundo sobre aquele afeto que crescia mais a cada dia. E sente que a mesma ânsia de viver a empurra para um silêncio amargo, a conduz para o seguro estado de inércia onde a ausência de risco significa a ausência de sofrimento.  Ela sabe: esse é o efeito estanque do medo. Por mais certeza que tenha acerca de seus sentimentos, não há voz para dizer "quero você"; o medo da rejeição roubara cada uma das quatro sílabas presas em sua garganta. Medo puro, transparente, volátil e inflamável. Para não incendiar e explodir, Ana vira na

Sai do portão e vem brincar

Anda, sô, toca a campainha e corre! Não posso. Não mais. Eu quero tocar a campainha e esperar. Se for moça dar bom dia, se for velha pedir um copo d'água, se for cachorro tropeçar nos pés e cair na calçada. Eu quero tocar a campainha e esperar. Cansei de dar as costas à vida e entrar debaixo da saia da minha mãe. Eu quero o esporro, o sorriso e o desprezo.