Ganhei uma boneca no natal passado. Porcelana finíssima, cabelos negros e vestido cor vermelho sangue. Era a mais bonita de todas as minhas bonecas e a mais frágil também; parecia que só de olhar trincava. Daquelas que a gente ganha e tranca no armário, tamanho o ciúme e o medo de perder. Eu, no entanto, muito vaidosa do presente coloquei na estante da sala. Um dia, por acaso, a filha da vizinha viu a boneca e pediu para brincar. Relutei por uns instantes, fiz cara feia, mas acabei cedendo. Ora, a menina tem oito anos, nem é tão pequena, não há de acontecer nada! Todas as tardes ela vinha com suas panelas, xícaras e chás de mentirinha; a felicidade dela era minha também - que ficava sempre perto, por precaução. Com o passar do tempo já não me preocupava com a boneca, não havia mais receio de um acidente qualquer. E, obviamente, o óbvio aconteceu: em uma terça-feira insuportavelmente quente a menina, ao voltar com a boneca para a estante, a deixou escorregar das mãos e espatifar n