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Deixa(n)do pra amanhã

Adiei sem data limite o dia de viver.

Ando um pouco infeliz nestes últimos tempos. Um pouco; nem muito e nem totalmente, um pouco infeliz. As necessidades da vida que escolhi me atropelam, e estou continuamente deixando para amanhã a migalha de prazer que deveria obter agora. Só de pensar em assistir novela, ler Clarice ou escrever, me desespero: preciso estudar microbiologia, dormir, lavar roupa, resolver problemas no estágio... Deus!, meu cotidiano me consome.

A engrenagem da culpa me tem tão presa que até dançar forró se torna pecado capital. Mas como gosto mesmo de calor e fogo nas ventas, no inferno é que eu vou arder porquê são uma hora da manhã e antes de começar a escrever eu estava devorando Clarice e Fernando -- a fome era tanta que um só não bastava --, sabe-se lá que horas vou conseguir dormir e amanhã bem cedo estarei de pé para tomar o café de todo dia.

...

Eita vida tão cheia de ponto final e tão pobre de reticências.

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