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Ai! como eu queria existir mil vezes! Mil vezes viver, mil vezes esquecer, mil vezes amar e mil vezes ter vontade de te atirar do mais alto precipício. Porque pela milésima vez penso em você e não descubro maneira de não pensar. Porque pela milésima vez me odeio e me xingo por ser tão burra e passional. E pela milésima (mas não a última) vez eu tive a certeza de que sou melhor sem você. Mesmo sofrendo mil vezes.

Corro demais

Os vidros da biblioteca me oprimem; a sala de estudos parece encolher, a luz cada vez mais forte incomoda meus olhos. As letras se confundem nos livros, a cabeça pesa, pesa muito... Tudo quer me expulsar para o jardim! Meus pés clamam pela grama macia e úmida, clamam com a certeza de que as respostas que não encontro nos livros estão lá, na grama, apenas aguardando o tropeço. Eu, em contrapartida, não tenho certeza se quero tais respostas. Perguntas solucionadas ocasionam mais e mais perguntas, e me cansei de andar em círculos. Eu quero parar em algum lugar. Se este lugar for a opressiva sala de estudos da biblioteca, amém! Que eu pare e respire o ar morno que escorre pela porta. E mesmo que me confunda, me derreta, me perca, é preciso parar.

Fogo de palha

Deus meu, quanto desespero, quanta agonia! E só de pensar que daqui a pouco tudo passa e já começa de novo!, ai meu deus nossa senhora, quanto desespero, quanta agonia! ... Exclamações tão curtas quanto um sonho bom.

Tudo isso me faz ( )

"E quem disse que a vida tem de ser promissora? É tudo uma merda. O jeito é enfiar a cara na lama e acreditar que você é um porco." Dois anos depois e a frase escrita em um email continua valendo da mesma forma. Será que andei para trás? Ou não andei? ... Porco, caranguejo ou alface? Confuso? Interrogações demais.

Deixa(n)do pra amanhã

Adiei sem data limite o dia de viver. Ando um pouco infeliz nestes últimos tempos. Um pouco; nem muito e nem totalmente, um pouco infeliz. As necessidades da vida que escolhi me atropelam, e estou continuamente deixando para amanhã a migalha de prazer que deveria obter agora. Só de pensar em assistir novela, ler Clarice ou escrever, me desespero: preciso estudar microbiologia, dormir, lavar roupa, resolver problemas no estágio... Deus!, meu cotidiano me consome. A engrenagem da culpa me tem tão presa que até dançar forró se torna pecado capital. Mas como gosto mesmo de calor e fogo nas ventas, no inferno é que eu vou arder porquê são uma hora da manhã e antes de começar a escrever eu estava devorando Clarice e Fernando -- a fome era tanta que um só não bastava --, sabe-se lá que horas vou conseguir dormir e amanhã bem cedo estarei de pé para tomar o café de todo dia. ... Eita vida tão cheia de ponto final e tão pobre de reticências.

Pardon

A academia me suga. Agora me limito a re-produzir. Ah, deus, preciso de férias. (E de filmes, comida de mãe, Clarice Lispector e meu jardim.)

A chegada de Chica

Sentada sobre a cama, Chica olha fundo nos meus olhos. Com aquela íris cor-de-burro-fugido-que-caiu-numa-bacia-de-violeta-gensiana. Só olha. Definitivamente, ela é mais esperta que eu. Eu? Eu falo demais.

Atchim

Caso eu não me forme, tenham sabido: a culpa é da poeira de obra, do frio e do cigarro alheio. Após espirros sucessivos, meu cérebro se esvai sob a forma de fluidos nasais. Jarros e jarros de fluidos nasais. Tanta meleca tem de vir de algum lugar, e como fico estúpida -- no sentido mais estrito da palavra -- quando estou doente, sim!, a meleca é meu cérebro liqüefeito. (Me encontro num estado tal de mamonice que nem sei mais ao certo qual a idéia deste blog. Tudo se confunde no mar de líquidos esverdeados.) Enfim, acho que voltei. Mas só até assoar o último neurônio.

Passeando por aí

Completude. Cheiro de maresia distante, gatos dormindo em cima da mesa, a bandinha crente machucando a bateria no terreno ao lado, tv desligada, a caixa de som tocando bom pop. A cena é esta, dentro e fora de mim. Sentimento de "tudo em seu devido lugar". Juro que pensei que o sintoma máximo de tal estado seria um calor invadindo o coração, a alma emanando paz e todos os etcs e tais possíveis. Meus botões e zíperes que o digam... Estranhamente, neste exato instante eu afirmo -- com uma certeza quase messiânica: estou completa. E nada da tal calidez cardíaca! A noite sugere apenas que a louça suja dentro da pia nunca pareceu tão apropriada. E os papéis espalhados, e a pele melada de suor e sal, e a casa vazia, vazia. E a certeza quase messiânica de que tudo está em seu devido lugar. Deve ser a tal da felicidade...

Do além

Estava eu sentadinha num centro espírita, banco comprido, aguardando minha vez de receber o passe. Eis que vem um médium e diz, durante a palestra que ministrava: "A ilusão é o primeiro dos prazeres." E penso eu com minhas pulgas, "fudeu". Passado o pânico, voltei a rezar. Com um empenho que você nem imagina...