Passam de duas horas da manhã, e pela centésima vez meu castelo de cartas cai antes que eu coloque o derradeiro par. Todos dormem, a casa está em absoluto silêncio; nem a minha respiração é capaz de macular a aura quase mística que envolve minha insônia. Quando era pequena me punha a construir castelos, a imaginar que seria "o meu castelo", onde eu iria morar com meu amado, teria meus filhinhos, e morreria bem velhinha. Agora, aos quase vinte, empilho cartas para me distrair, nada de amores, filhos ou planos para morrer.
Brincar com o baralho pode parecer uma atividade solitária, mas não é; é uma atividade "esvaziadora". Me concentro nas cartas e esqueço do mundo. "Adios" problemas, preocupações e sentimentalismos. Um momento egoísta? Sim, extremamente. Masturbação do ócio -- pena que se torne enfadonha após prática constante. Baralho e porre. Duas coisas as quais posso me dar o luxo de usufruir apenas algumas vezes ao longo do ano. O exagero leva à falsa impressão de que não consigo viver sozinha. E, definitivamente, a solidão já deixou de ser um problema há tempos; eu me faço excelente companhia. Em si, a solidão não me incomoda. Gosto de ficar sozinha, ter tempo para cuidar de mim - e de minhas plantinhas -, poder me silenciar por dentro e assim ficar por horas e horas.
"O inferno são os outros."
Interessante esse movimento introspectivo seu...
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