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Da perda

De repente já não faziam mais sentido a sala, o quarto, o piano. Por alguns instantes, curtos instantes, eu senti o peso de sua ausência. A dor, maquiada pela rotina, nem parece mais dor - sem, no entanto, deixar de ser. Um fino veio de melancolia aflorou quando entrei na sala escura, rasgando o cimento da invunerabilidade.

Fora eu, a vida ou o tempo quem não me permitiu aceitar as feridas abertas? Há feridas, e há motivo para tê-las. A razão esclarece o mundo mas não muda os fatos. Sei da certeza, da necessidade; nunca quis prendê-la a mim ou revogar seu direito à paz. E se antes neguei espaço à fragilidade, hoje a recebo de braços abertos, aceitando-a como condição da minha humanidade. Um dia, quem sabe, hei de ser o forte o bastante para chorar todas as lágrimas contidas ao longo do caminho.

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