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Diálogo a sós I

- Eu amo você.

- Hã?

- É. É isso.

- Isso o quê?

- Eu. Eu amo você.

- Do quê é que você está falando?

- De amor, oras!

- Tem certeza?

- Qual a dúvida? Está mais do que óbvio, estou falando de amor! Amor, sabe? Aquela coisa de ansiedade, coração acelerado, do rubor que acomete a face...

- Você está ansioso?

- Não.

- Seu coração está acelerado?

- Acho que agora não...

- E seu rosto não está vermelho. Não, você não está falando de amor!

- Como não?

- Está falando de você. De um sentimento que você quer fazer existir. Mas não de amor.

- Não! Não é isso... Você não compreende...!

- Realmente, eu não compreendo. Tanto quanto você! Olhe para si; carne ou desejo, pele ou sonho, sangue ou sentimento? Onde termina o concreto e começa o abstrato dentro do seu "eu"?

- Não sei, não sei! Mas para que tanta confusão? Se falo sobre amor, falo sobre mim. Mas não deixo de falar de amor. Uma coisa não anula a outra, oras!

- Escute... Você fala do amor que sente, ou da idéia de amor que desejaria sentir?

- ...

As conversas com o espelho sempre terminam em reticências.

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