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Romance de papel

Buenos Aires, duas histórias, um casal eminente que ainda nem se conhece. Enquanto os protagonistas abrem a janela do apartamento (e, metaforicamente, da própria vida), o cantor diz assim escondidinho em inglês: 'Cause true love/ is searching too/ But how can it recognize you/ Unless you step out into the light? Estavam próximos um do outro, mas distantes de si mesmos... Para nosso alívio e deleite, eles se encontram no final - por favor, não reclame por ser algo óbvio; a vida real não é cinema e nós precisamos de um pouco de romance para alimentar as ilusões.

Assisti a essa cena dezenas de vezes, a música preenchendo minha mente feito um mantra. Onde eu estou errando? Porquê não consigo abrir minha janela? De onde vem tanto receio e ceticismo? Como saber se a pessoa certa está a uma quadra de distância e só eu não consigo perceber? Existe "a pessoa certa"?

Então veio outro filme, outra cena, e me deparei com uma possível resposta: algumas pessoas nascem para viver o amor, outras para sonhar com ele. Tenho tantas visões sobre o amor, tantas possibilidades e expectativas que, provavelmente, só conseguirei vivê-lo integralmente em minhas divagações. Minhas realidades inventadas são doces... Doces demais para serem verdade.

No final todas as minhas paixões foram e continuaram sendo platônicas; mais que amar o outro, amo a ideia que faço dele e todos os inúmeros descaminhos por que passo em minha imaginação. Os meus romances eu compro no sebo e são todos de papel.

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