Pular para o conteúdo principal

Eu te conheço demais

Fim de sábado morno, preguiça e uma caneca de chá de erva doce.

A música que sai do fone acerta em cheio, boca do estômago. "Friends, lovers or nothing/We'll never be the 'inbetween'/So give it up"*. Give it up, desista, esqueça, passe a bola.

Nós tentamos uma, duas, três vezes. Amigos perfeitos, péssimos amantes. Qual a melhor solução para admitir o fracasso? Você me olha como quem diz "eu te conheço demais, Beatriz" e o chão se abre sob meus pés, as roupas sujas espalhadas ao redor...

Não deu certo porque não deu, simples assim. Falta alguma coisa que a gente não acha pra comprar na mercearia ou na internet. Sem mimimi e justificativas vazias. Não que eu vá fingir que abril não aconteceu ou deletar nossas fotos do computador... Tô bem, mesmo. Mas não quero falar sobre nós. Não preciso falar sobre nós. Não deu certo porque não deu, simples assim.

Eu queria tomar cerveja e questionar sobre a necessidade de perguntas, de explicações para o fim. Queria conversar sobre a dinâmica dos relacionamentos. Sobre como nossa criação nos leva a enxergar tudo através de lentes dicotômicas, que divide o mundo em vencedores e perdedores, mocinhos e vilões. 

Mas você me olha e diz "eu te conheço demais, Beatriz". E tudo desanda.

Ilustração: Laura Callaghan


*"Friends, Lovers or Nothing", John Mayer

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sobre o pudor e a escrita

Há muitos dias venho sentindo uma grande urgência em escrever, fazer reais as inúmeras imagens formadas na minha mente. Frases, parágrafos, finais... Várias histórias contadas de várias maneiras, muitas, muitas palavras caminhando de um neurônio a outro. E, no entanto, algo travou. Eu não conseguia escrever. Mais palavras, mais ideias, bum!, a luz acendeu. E qual não foi o espanto ao perceber a motivação do bloqueio... Quando escrevo não se trata apenas de exposição: é uma completa nudez. Enquanto dou forma (e palavras) às ideias, vou despindo as situações do cotidiano até restar a sensação, o sentimento. Talvez seja mais até que nudez: é como se, depois de tirar as roupas, eu me sentasse de pernas abertas. Bem abertas. Curiosamente o pudor existe justo quando estou composta; composta de fatos, realidades, nomes, endereços. Isso sim é a real exposição! E anda bem difícil me livrar dessas "assinaturas". Todos os textos pensados são como que feitos para alguém, para dizer algo

She was a taker... You need a giver.

Quando menos esperar você vai encontrar alguém que te beije sem pressa. Alguém pra compartilhar o gosto do cigarro, do café, da cerveja, do bolo de chocolate com pouco açúcar. Dia desses você vai virar a esquina e encontrar alguém com um timing perfeito - ao menos razoável. Alguém que vai enxergar que você parece uma piscina de bolinhas, mas na real é um mar calmo e profundo. Que vai pular de mãos dadas contigo nesse precipício que é o sentir, e ainda de mãos dadas encontrar o caminho de volta. Numa balada qualquer vai tocar "No Rain", você vai dançar suas dancinhas engraçadas e esse alguém vai rir, e achar fofo, e dançar contigo. E ela vai, benzadeus que vai, conversar com você só pelo olhar. Vai ouvir as palavras que você diz em silêncio, nas pausas entre uma tragada e outra. Você vai encontrar alguém que te enxergue por inteiro. Numa tarde besta você vai sair pra comprar cerveja e encontrar alguém que não minta pra si mesma. Alguém pra te fazer cafuné, bagunçar seu c

Not enough

O gosto do café continua na minha boca. Fecho os olhos e retorno ao beijo uma, duas, centenas de vezes. O furacão que passou por mim passou por você também? Eu não sei. Eu realmente não sei o que dizersentirpensar. Me perdoa. Me perdoa porque eu te quero mas não te amo. E querer não é o bastante para nós dois. https://www.evauviedo.com.br/