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Aquele não

Não. Eu não posso. Taí o não mais difícil de dizer: o não que deseja ardentemente ser convertido em sim. O não que é um “eu quero, mas não devo!”. O não que nem deveria ser dito, porque pela condução natural da vida não era pra haver uma pergunta a ser respondida. Ou um convite.

Dizer não a estranhos é fácil. Dizer não aos próximos às vezes é delicado, tenso, mas plenamente possível, a palavra saí da boca – com naturalidade ou sem, faz pouca diferença. Agora vai dizer não a você mesmo, vai... Dizer não às vontades malucas, às paixões que habitam secretos descaminhos do coração, vai!

Sabe quando você está com a garganta inflamada, entupida de antibiótico e dá um pulinho no bar só pra dar um oi aos amigos? Quando aparece aquela santa alma pra pedir um copo, servir a cerveja e te oferecer? Você tem plena consciência de que não pode, que não vai parar no primeiro copo (que sejam só dois; dois é diferente de um, e um é diferente de nenhum), que é errado. E você bebe! Um, dois, n copos. Se regozija. Depois a dor de garganta piora, você tenta se convencer que foi por uma boa causa mas, internamente, sabe que fez uma grande bobagem: quinze dias sem cerveja não mata. Dizer não a certos caprichos não mata.

O que mata é ceder justo quando o não está lá agarradinho na garganta, doido pra sair. Fraqueza de espírito é o que mata. Ou de pernas.

***

As respostas estão todas ao alcance: basta aceitá-las.

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