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Sobre o pudor e a escrita

Há muitos dias venho sentindo uma grande urgência em escrever, fazer reais as inúmeras imagens formadas na minha mente. Frases, parágrafos, finais... Várias histórias contadas de várias maneiras, muitas, muitas palavras caminhando de um neurônio a outro.

E, no entanto, algo travou. Eu não conseguia escrever.

Mais palavras, mais ideias, bum!, a luz acendeu. E qual não foi o espanto ao perceber a motivação do bloqueio... Quando escrevo não se trata apenas de exposição: é uma completa nudez. Enquanto dou forma (e palavras) às ideias, vou despindo as situações do cotidiano até restar a sensação, o sentimento. Talvez seja mais até que nudez: é como se, depois de tirar as roupas, eu me sentasse de pernas abertas. Bem abertas.

Curiosamente o pudor existe justo quando estou composta; composta de fatos, realidades, nomes, endereços. Isso sim é a real exposição! E anda bem difícil me livrar dessas "assinaturas". Todos os textos pensados são como que feitos para alguém, para dizer algo a alguém, e em algum canto do cérebro minha consciência acende o sinal de alerta: caminho errado, garota, caminho errado. Não que seja um crime escrever por circunstância!, só não é a minha intenção. Não me sinto confortável com tantas costuras e botões, com tantas amarras.

Antes falar sobre a dificuldade de traduzir as ideia que falar sobre as ideias em si.

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