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Cafuné

Uma noite dessas me flagrei pensando em meus amigos: os amigos próximos, os distantes, os de agora, os de cinco anos atrás... Não como uma retrospectiva ou balancete de quem entrou e quem saiu; foi mais uma observação a respeito da dinâmica das relações e a importância que isso tem na minha vida.

Pessoas vão e pessoas vem, faz parte. Algumas vezes nos decepcionamos; talvez nos fechemos a novas pessoas, talvez fiquemos mais dispostos a nos entregar. Não há receita ou previsão. A interação entre as pessoas está sempre sujeita à aleatoriedade da vida e depende dos fatores mais misteriosos, que às vezes a gente chama de vontade divina, coincidência...  Às vezes nem põe reparo.

O que me encanta na amizade não é como eu posso compartilhar minha vida com o outro, mas como o outro abre as portas de sua vida e me deixa entrar. Às vezes de sola, às vezes de fininho, sem receita. A certeza de que alguém conta comigo e que estarei lá quando for preciso me conforta e alegra. Algumas vezes questionei se deveria sempre haver reciprocidade, e sofri um pouco por demorar em perceber que o maior pagamento para a mão que estendo é a mão que ajudo a erguer, nada mais.


Saber que meus amigos estão bem e que eu fiz parte da construção dessa felicidade é algo sem preço nem moeda de troca, e independe de estarmos próximos ou não. Os sorrisos e as lembranças são deles, e são meus também... Ninguém pode retirar isso de mim, nunca de nuncarás.

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