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Leve, bem de leve

Amanhã comprarei um pacote de balas de gelatina, uma garrafa de guaraná, três pacotes de biscoito recheado e uma caixa de bombons. Colocarei tudo dentro da mochila de ursinho, junto dos guardanapos xadrez, do prato de menininha e da caneca de leão. Armada até os dentes de bobagem vou invadir o jardim, abrir uma toalha branca no chão e montar acampamento. O sol não queimará meu rosto, e nem as formigas tentarão me atacar. Vou comer, comer, e quando me fartar de tanto doce deitarei sobre a toalha - meu pé estará limpinho, mamãe não terá motivos para xingar. Será o início da grande batalha.

Apoiando a simpática edição de "Contos de Grimm" nos joelhos, explorarei todas as fronteiras da minha imaginação. Um silêncio quase virginal me protegerá dos ataques externos. A campanha será árdua, posto que para recriar um universo perdido na memória será necessário buscar em remotas lembranças as mais sutis cores da infância.

A luta terminará tão somente quando ouvir alguém chamar: "A lasanha está pronta, vem almoçar!" Jogarei, então, plásticos e papéis no lixo, guardarei a mochila no armário e o livro na estante. Mais tarde tomarei um café, acenderei um cigarro. E, sentindo bem de leve a pressão da realidade sobre as costas, sentirei saudade das balas e das formigas... Fulgáz instante de inocência.

Comentários

  1. O cigarro no final foi o grande achado!!!!!!!!

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  2. É bom quando não machuca. É lembrança de trilhas passadas, que embeleza os caminhos de agora... Sei como é.

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